Será Tiny House uma inovação social?
Ao caminhar pela rua e ver uma pessoa desabrigada, você já fez uma reflexão sobre o que levou essa pessoa a estar na rua? Quais são as alternativas de moradia para pessoas sem teto? Já olhou ao seu redor e sentiu que existem formas
melhores de fazer as coisas? Antes de compartilhar este post, vamos descobrir
juntos como nós podemos transformar vidas de quem nós valorizamos.
Dentre
os problemas sociais mais comuns está a falta de moradia. Aproximadamente 150
milhões de pessoas (2% da população mundial) vivem sem teto1. As
causas de desabrigo são várias: compra de terreno e construção de residência
como realidade inacessível para a maioria nesta geração, desemprego que não
diminui, população de migrantes e refugiados que aumenta a cada ano, dentre
outros fatores.
Como resolver
o problema? Uma solução que tem sido implementada ao redor do mundo com sucesso é a tiny house (casa compacta). Falaremos um pouco sobre a tiny house como proposta de inovação social na reintegração de
desabrigados, discutindo o caso da Quixote Village.
1. Conceito de tiny house
Inovação? Mudança de paradigma? Sustentabilidade? O conceito de tiny house surge na
década de 802, apresentando
uma forma alternativa de residência e estilo de vida que rompe o status quo de
aquisição de coisas como medida de sucesso.
São casas mais simples e eficientes, em até 40 m2, que aparecem em todas
as configurações, tamanhos e formas. As pessoas se ligam ao movimento tiny
house por diversas razões: reduzir custos financeiros, viver em melhor
equilíbrio com o meio ambiente, desejo de ter mais tempo e liberdade.
Em países
desenvolvidos, designers e inovadores sociais estão trabalhando em projetos3
de tiny house que reimaginam o modelo de moradia da comunidade, promovendo a
participação e colaboração na construção de casas sustentáveis. Quando o
próprio beneficiário participa no desenvolvimento do projeto, se sente mais
comprometido com a causa, satisfazendo melhor suas necessidades
reais do que quando o programa é simplesmente
imposto ou dado de modo paternalista.
Um destes projetos colaborativos é a Quixote Village, uma
vila de tiny houses com gestão própria, que provê moradia permanente para
pessoas que não tinham teto de uma comunidade.
2. O caso da Quixote
Village
Localizada em
Olympia, Washington, Estados Unidos, a Quixote Village foi construída em
2013 com a seguinte infraestrutura: 30 tiny houses em 8000 m2 de terreno, com uma
construção de 250 m2 que abriga cozinha, chuveiros, lavanderia e sala de
reunião comunitárias, além de escritórios e equipe de funcionários. Cada tiny
house tem 13 m2, espaço suficiente para caber uma cama de solteiro,
escrivaninha, toalete e armário. Os residentes têm privacidade e ao mesmo tempo
interação e senso de comunidade.
A iniciativa
para a construção da vila partiu de um grupo de desabrigados, que em 2007, moravam em comunidade de tendas montadas num parque público da cidade. Foi a
partir da criação de uma lei municipal que proibia o bloqueio de acesso às
lojas da cidade, da criação pela administração pública municipal de
acampamentos temporários, e de apoio de entidades religiosas, que foi
organizado o “acampamento Quixote”, que mudou de localização mais de 20 vezes
em 7 anos.
Neste processo de transição, foi criada uma ONG com o
objetivo de arrecadar os recursos necessários à construção do acampamento
permanente e para a administração do projeto. O planejamento condominial, foi feito por um arquiteto que, em workshops com os residentes, apresentou as diferentes
opções de design, sendo escolhida o design da “tiny house”. Cada unidade custou
aproximadamente $88.000, que é a metade do valor de um apartamento
convencional. O financiamento veio de órgãos governamentais, com auxílio da
iniciativa privada (serviços profissionais) e da sociedade civil (doação
monetária).
A gestão da vila é feita por uma equipe que lado a lado trabalha
com os residentes, que faz reuniões semanais para discutir questões
concernentes à comunidade. Cada residente contribui com 1/3 de seu salário como
aluguel e coopera da manutenção da propriedade. A equipe gestora trabalha em
tempo integral e atua na programação de atividades, no desenvolvimento pessoal
dos residentes, bem como na captação de recursos. Este caso da Quixote Village
sugere, com seu design inovador e modo de autogestão, um modelo que proporciona
melhor custo-benefício e emancipação dos indivíduos em comparação às formas
tradicionais de moradia para desabrigados4.
3. Tiny house como
política pública no Brasil
Como
visto no caso, as tiny houses, com custo reduzido em relação à construção
convencional, design inovador, e mais harmônicas com a natureza, mostram-se
como uma solução para um problema público tão visível nas ruas das cidades
brasileiras: a falta de moradia. A construção de comunidades de tiny houses
poderia ser um modelo de política pública que iria além do simples “dar um
teto” às pessoas, promovendo também a reintegração social e a emancipação dos
indivíduos. É um projeto que pode ser adotado pelo governo e grandes ONGs,
atuando em parceria com a iniciativa privada e a sociedade civil.
Ao
implementar propostas de inovação social como esta, estaríamos prevenindo
problemas sociais futuros e, ao mesmo tempo, contribuindo para uma sociedade mais equânime e
colaborativa. As possibilidades são inúmeras. Entretanto, barreiras como regras
de construção e de zoneamento teriam que ser debatidas. Muitos dos nossos
caminhos de fazer as coisas são legados de outra época. É tempo de desafiar
paradigmas: sobre o custo de construção de uma casa, sobre o que
constitui um espaço aceitável, e até sobre a natureza do que significa habitar em
uma casa.
Será Tiny House Inovação
Social? Como você imagina sendo usada no Brasil? Deixe seu comentário!
Conteúdo desenvolvido por:
Bruna Schiquetti
– acadêmica do curso de administração pública
Cheila
Horstmann – acadêmica do curso de administração pública
e
Daniel Silva - acadêmico do curso de administração pública
Referências
1 UN – United Nations. Economic, social and cultural rights - Report of
the Special Rapporteur on adequate housing as a component of the right to an
adequate standard of living. 2005. Disponível em: <https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G05/117/55/PDF/G0511755.pdf?OpenElement
>.
2 https://en.wikipedia.org/wiki/Tiny_house_movement
3 como a tese premiada em concurso de inovação social - https://www.libertydothome.at/ueber-uns/
2 https://en.wikipedia.org/wiki/Tiny_house_movement
3 como a tese premiada em concurso de inovação social - https://www.libertydothome.at/ueber-uns/
4 https://www.metropolismag.com/architecture/residential-architecture/site-visit-a-tiny-house-village-in-olympia-offers-a-new-model-for-housing-the-homeless/
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